O pessoal é político
[Trecho do capítulo um “A aderência da cultura no corpo” do livro “Beleza e Misoginia” de Sheyla Jeffreys. Routledge, 2005. Simultaneamente publicado nos Estados Unidos e Canadá. Acessado no endereço: https://www.feministes-radicales.org/wp-content/uploads/2010/11/Jeffreys_Beauty_and_Misogyny_Harmful_Cultural_Practices_in_the_West__Women_and_Psychology_1.pdf]
A crítica feminista à beleza começa do entendimento que o pessoal é político. Enquanto feministas liberais tendem a ver o âmbito da vida “privada” como uma área onde as mulheres podem exercer o poder da escolha sem restrições através da política, feministas radicais como Dworking e Mackinnon buscam destruir a distinção entre público e privado a qual, elas argumentam, é fundamental para a supremacia dos homens. Essa distinção provém aos homens um mundo privado de dominação onde eles podem armazenar as energias emocionais, de trabalho doméstico, sexuais e reprodutivas das mulheres enquanto escondem as relações de poder feudais desse âmbito atrás do escudo da proteção do “privado”. O mundo privado é defendido do ponto de vista da dominação do homem como um [mundo] de “amor” e realização individual que não deveria ser enlameado pela análise política. É um mundo onde mulheres simplesmente “escolhem” dispor suas energias e corpos à disposição dos homens, onde elas permanecem, apesar de qualquer violência ou abuso que é distribuído à elas. A natureza “privada” desse mundo tem sido há muito protegido homens de punição porque tem sido visto como fora da lei que apenas se aplica ao mundo público. Assim, estupro marital não era um crime a partir dessa visão e violência doméstica era uma disputa pessoal.
A crítica feminista radical argumentou que, ao contrário, o “pessoal”, que são os comportamentos desse mundo “privado”, eram de fato “políticos”. Reconhecendo que o “pessoal é político” permitiu que mulheres identificassem, através de grupos de despertar da consciência e a troca de experiências, que o que elas tomavam como fracassos individuais, como odiar suas barrigas roliças ou simular um dor de cabeça quando elas queriam evitar relações sexuais com seus parceiros homens que ficavam bravos, não eram apenas experiências individuais. Estas eram experiências comuns às mulheres, resultado das relações de poder desiguais do chamado mundo “privado”, e de fato, muito político. O mundo “privado” foi reconhecido como as bases do poder do homem vistos no mundo “público” do trabalho e do governo. O poder público e conquistas dos homens, seu status de cidadão (Lister, 1997), dependia nos serviços que eles recebiam das mulheres em casa.
Tradução livre por Daniela Alvares Beskow (2016)