Falta comoção

Importante que estão sendo proferidas críticas em relação à fala do deputado. A questão é: POR QUE não existem críticas em igual número e de tamanha intensidade em relação à casos semelhantes ou de maior gravidade quando ocorrem no Brasil?

“Você é feia, não merece nem ser estuprada” (fala proferida por um deputado à outra deputada no Brasil alguns anos atrás, dentro do ambiente da câmara).

Adesivos de apologia ao estupro da presidente coladas em carros, fotografados e difundidos pelas internet. Houve críticas massivas e imediatas? Houve punição dos agressores?

Quantas mulheres em situação de vulnerabilidade são estupradas no Brasil sem que haja a mínima comoção por parte de políticos, jornalistas, sociedade?
Recentemente tivemos o caso de uma mulher estuprada em uma casa noturna. O agressor foi absolvido. Comoção jornalística ou por parte de políticos? Nenhuma.
Quantas crianças do sexo feminino são violentadas sexualmente no Brasil diariamente? Onde está a comoção pública?
Mulheres assediadas sexualmente dentro de consultórios médicos, durante o trabalho de parto (recentemente um caso teve repercussão). Onde estava a comoção?
Deputada teve suas partes íntimas tocadas por outro deputado em sessão do Parlamento. A punição ao deputado foi uma mera suspensão de poucos meses do trabalho. Comoção? Não vi.
Vídeos, exames de corpo delito, testemunhas, o relato das próprias vítimas. Provas e mais provas. Comoção? Pouca.
Estamos diante de mais um caso de comoção seletiva? Aquela que desumaniza corpos de mulheres brasileiras – muitas vezes mulheres negras e pobres – e humaniza mulheres europeias?
Objetificar sexualmente mulheres ucranianas é condenável, mas, objetificar sexualmente e ir além das palavras, cometer o ato da violência sexual contra mulheres brasileiras se torna aceitável.
É isso que estamos assistindo.
A humanidade não vale para as mulheres brasileiras. Para as mulheres brasileiras assediadas, violentadas não há comoção, e na maioria das vezes, sequer há punição.
A crítica aos homens agressores não se faz apenas para se projetar no debate público, crítica não é marketing.
Mais responsabilidade! Respeito às mulheres brasileiras!

Daniela Alvares Beskow

07 de março de 2022

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