“Lésbicas masculinizadas”, uma ofensa misógina e heteronormativa

A ofensa do termo “mulher masculinizada” se aprofunda no termo “mulher lésbica masculinizada”. Na publicação anterior abordei o sequestro da assertividade em mulheres e a apropriação enquanto posse exclusiva desta característica pelos homens. Sem o direito reconhecido socialmente de sermos assertivas, quando o somos, nos acusam de estar roubando uma característica exclusiva dos homens e nos taxam de “masculinas”. A mulher lésbica, apenas por ser lésbica, já é imediatamente vista enquanto desviante. Frequentemente, apenas pelo fato de ser lésbica, ou seja, de se relacionar sexualmente e afetivamente com outras mulheres, é caracterizada enquanto alguém que gostaria ou que estaria tentando ser um homem. Neste caso, a lógica heteronormativa organiza a interpretação e não reconhece um casal de mulheres, mas, sim, apenas casais heterossexuais. Nesse sentido, em um casal lésbico, se coloca que uma das mulheres estaria desempenhando o papel de um homem. Ou ainda, que ambas estariam querendo ser homens, afinal, apenas homens poderiam ocupar o território de desejar sexualmente mulheres. Não, não queremos ser homens. Ser lésbica, inclusive, é viver o território afetivo onde homens sequer são uma questão. Aprofundando a caracterização ofensiva e na tentativa de entender a realidade que classificam como artificial através da formatação em um modelo já conhecido e que consideram natural, muitas pessoas classificam a mulher lésbica assertiva e que não corresponde às expectativas da feminilidade, como “masculinizada”. Uma mulher heterossexual assertiva e uma mulher lésbica assertiva podem adotar comportamentos e estéticas semelhantes e ter interesses parecidos. Ambas podem ser caracterizadas de “masculinas”. O agravante em denominar uma mulher lésbica de masculina está na tentativa de formatá-la em um casal heterossexual, quando esta lésbica encontra-se em um relacionamento, ou no caso da mulher lésbica solteira, o agravante se encontra no ódio estimulado socialmente contra as lésbicas, a misoginia e a lesbofobia. Perante a raiva que sentem frente a mulher lésbica assertiva, que duplamente foge às expectativas do patriarcado – que seja não assertiva e que se relacione sexualmente com homens – a classificam como “masculina”. Na tentativa de ofendê-la, afirmam que ela não é mulher, já que, esperam que mulheres não sejam lésbicas e não sejam assertivas. O masculino violenta mulheres. Lésbicas nunca serão masculinizadas ou masculinas, pois, o masculino pertence ao grupo dos homens, o grupo que violenta. Não ofendam lésbicas.

Daniela Alvares Beskow

10 de setembro de 2021

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