Os tempos sempre foram difíceis para as pessoas oprimidas, violentadas e desfavorecidas, seja no nível de gênero, raça/etnia, classe social, orientação sexual, de condições de trabalho e outros. As condições históricas de cada tempo e região promovem contextos de violência e desigualdade e ao mesmo tempo colocam possibilidades e práticas onde é possível vislumbrar e concretizar transformações da realidade.
No momento atual no Brasil, observa-se um acirramento e explicitamento do conflito entre forças nos níveis da política representativa. Defesas de argumentos sobre a realidade vem sendo colocadas no nível do debate público. As violências sempre cometidas por aqueles que se encontram em situação de favorecimento social, político e econômico vem sendo de várias formas questionadas: movimentos sociais, figuras individuais, forças sociais e opinião pública complementam direta e indiretamente a relação de forças no nível representativo da política. A base escravocrata, patriarcal, heteronormativa e economicamente dominante no Brasil vem reagindo de forma brutal, rápida e incisiva em relação às diversas forças de esquerda no país.
Nas últimas décadas vem se desenvolvendo diversos movimentos de luta e libertação e que propõe condições de vida dignas para as pessoas, não apenas para aquelas já favorecidas pelos sistemas dominantes, mas, para todas as pessoas, ampliando reflexões e práticas sobre a superação de relações predatórias com o planeta. Movimentos feministas, movimentos negros, movimentos de lésbicas e LGBT, movimentos de luta pela terra, movimentos de luta pela moradia, movimentos indígenas, movimentos de trabalhadores, movimentos veganos de luta pela vida.
Todos esse movimentos vem ganhando potência, consciência, articulação e concretização nas últimas décadas, não apenas no Brasil, mas, no mundo. A política representativa vem atuando como um dos canais de vazão dessa força, ainda limitado, porém, relevante. E como a história demonstra, sempre que um determinado campo social ganha força, coloca-se em oposição outro campo, contrário e combatente àquele. E é exatamente neste ponto que se encontra o Brasil atualmente. Diversos golpes vem sendo dados na população e nos movimentos que lutam por condições de vida melhores para todos. Aqueles que se encontram em posição dominante e que são inclusive numericamente menores do que as pessoas exploradas, controlam os meios de produção, os meios de comunicação, os meios políticos e os meios simbólicos e culturais. E é por esta razão que tem facilidade em continuar dominando. Dissolvem conquistas duramente construídas por décadas, com articulações entre os poderosos e canetadas. Entre as pessoas exploradas as relações de violência também perduram, castigando pessoas negras, mulheres, lésbicas e gays. A violência está em todos os lugares.
Dado esse panorama histórico cultural que se concretiza atualmente no Brasil a partir de diversas injustiças realizadas principalmente pelos poderes executivo e legislativo atualmente, o que fazer? Se não houver organização coletiva, nada mudará. Se não fizermos, ninguém fará por nós.
Como pensar as situações individuais de violência na articulação com pessoas que sofrem as mesmas coisas? Como ampliar para o nível do debate e ações coletivas as propostas de superação das realidades de dificuldade para articulações potentes, criadoras e transformadoras?
Redes de pessoas, ações e ideias são realidades de transformação.
Potência
A outra pessoa inspira minha própria potência, me vejo nela ou me vejo o oposto dela, refletindo sobre minha própria existência e refazendo-me.
Criação
Crio com a outra. Criamos juntas as regras de um novo jogo a ser jogado por nós e proposto ao coletivo.
Fortalecimento
Me fortaleço com a outra. Nos ajudamos, nos solidarizamos, nos consolamos e nos fortalecemos. Ampliamos nossa força a partir do companheirismo, da aliança, do reconhecimento. Damos vazão às nossas dúvidas, perguntamos e ouvimos.
Resistência
Mais fortes, aguentamos mais.
Proposição.
Fortes, conectadas, conscientes e sem medo, propomos.
Resistimos!
Qual a sua proposição de hoje?
Daniela Alvares Beskow
Novembro/2016
Como citar essa coluna:
Beskow, Daniela Alvares. Breve reflexão sobre redes: Brasil atual e resistência. Palavra e Meia, Nov. 2016. Colunas. Disponível em: <http://www.palavraemeia.com/colunas/breve-reflexao-sobre-redes-brasil-atual-e-resistencia/> Acesso em: [inserir data].