Buenos Aires. 04 de dezembro de 2015. Café de La Poesia.

Pessoas à minha volta. Penso o tempo todo se os garçons/garçonetes estão me observando “será estrangeira?”. Bom, isso é óbvio, já perceberam, então pensariam “de onde será?”, “será escritora?” (…) o garçom interrompeu para servir a cerveja (…) o café está cheio. Todas as mesas, quase, estão cheias. Em cada mesa, um grupo diferente de pessoas, falando coisas diferentes. As conversas se misturam. Atrás de mim, uma voz grave de homem fala há um tempão. Com quem estará falando? A pessoa não fala, parece, ou tem uma voz muito baixa. Ao meu lado, dois homens jovens. À sua frente, duas mulheres jovens. Bebem cerveja (…) Café literário (…) Vejo fotos, há muitos quadros pendurados na parede, com desenhos e fotos. Não conheço as pessoas dessas fotos. Fico imaginando se são pessoas que já morreram. E penso sobre isso das imagens. As imagens ficam, as pessoas vão. Pessoas nas fotos, pessoas que não estão mais aqui (…) Aqui é um café para escritores. É? O nome e a descrição é “café litearário”, de La Poesia.Há um mural com papeizinhos com poemas escritos deixados pelos clientes. Deixo um? O que poderia escrever? O guardanapo liso daqui é pior do que o do Brasil. Lembro de ter lido uma vez o blog de um estrangeiro visitando o Brasil, ele falava sobre coisas que achava estranho. O guardanapo foi um deles. Algo como “um guardanapo liso que não limpa nada”. Realmente, é quase um papel vegetal para desenho. A cerveja já está quente e não tomei nem metade da garrafa (…) “Café Bar”, se lê na porta de vidro e madeira do Café Poesia. Mais clientes chegam, enquanto outros vão embora. O garçom legal já começou a virar chato, previ sua pergunta “escreve muito”, ou qualquer coisa assim (…) os pensamentos são meus companheiros. As palavras também? La cuenta, por favor?

Daniela Alvares Beskow

04 de dezembro de 2015. Café de La Poesia.