Médicos e médicas não são deuses. Estupradores, abusadores, agressores e agressoras se encontram em todas as profissções, inclusive na área da saúde.
Pessoas violentam pois a sociedade não se posiciona contra a violência. Ao contrário, pessoas estimulam e aprovam a violência, punem vítimas e congratulam e acolhem agressores e agressoras. É o que eu denomino de “autorização social da violência” (“Reflexões conceituais sobre a violência”, livro de minha autoria, em andamento).Ao não colocar em prática mecanismos de prevenção da violência, de punição de agressores e agressoras e de acolhimento e ressarcimento das vítimas as sociedades estão autorizando que a violência ocorra.
No patriarcado, regime presente em todas as sociedades atuais – com suas diferenças e nuances locais – a violência praticada por homens (e também por mulheres em menor escala) contra mulheres é institucionalizada, ou seja, ocorre a partir de práticas recorrentes, sistematizadas, conectadas, formalmente e informalmente legitimadas pelo coletivo, através de mecanismos de reforço dos agentes agressores em suas práticas de desrespeito. Ao mesmo tempo dispõe de mecanismos que evitam e coibem a denúncia pública, a revolta e o questionamento por parte da vítima de violência, através de ameaça, violência psicológica e violências das mais diversas em delegacias e instituições do judiciário. Há um esforço enorme de instituições, pessoas e grupos para que a violência continue ocorrendo.
A violência que ocorre por parte de profissionais da saúde – em hospitais, clínicas, atendimentos de emergência, cirurgias, partos, exames, consultas – é apenas mais um exemplo da violência praticada contra mulheres no patriarcado. Violências desse tipo tem uma pecualiaridade: são cometidas contra mulheres vulneráveis. Doentes, sedadas, fragilizadas, em tratamento, no pré ou pós cirurgia, com dúvidas ou apreensivas devido à um problema temporário de saúde. Em alguns casos, completamente vulneráveis, como por exemplo quando sedadas e incapazes de estarem cientes da situação e logo, coibir o agressor ou reagir.
O estado de vulnerabilidade da vítima é um agravante para a determinação da violência, logo, profissionais da saúde que violentam pacientes estão cometendo violências em um grau maior de gravidade.
É preciso um basta!
Não à violência médica!
Daniela Alvares Beskow
12 de julho de 2012
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