Informação X pânico. Reflexões sobre o Coronavirus

Busca por informação não é pânico. O pânico é gerado pelo medo e uma das causas do medo é o desconhecido. A outra, é o conhecido que já trouxe danos: a experiência e a habilidade em prever, ancorada em indícios. Informação é o oposto do desconhecido e no terreno do conhecido, fornece dados e embasa o planejamento. Acesso à informação gera consciência e a possibilidade de traçar estratégias pessoais. A busca por informação deve ser estimulada para que nos eduquemos enquantos cidadãs conscientes.

Janeiro e fevereiro de 2020. Uma das pautas do debate público é a propagação do novo tipo de Coronavirus, que tem como epicentro a cidade de Wuhan, na China. Este vírus apresenta rápida propagação, ataca o sistema respiratório e pode levar à morte. No momento, países estão estabelecendo diferentes medidas para evitar a propagação do vírus entre as populações. Alguns optaram por fechar as fronteiras com a China, outros, apenas checar em aeroportos se passageiros vindo deste país apresentam sintomas da doença provocada pelo vírus e outros, não estão tomando nenhuma medida. Cada um desses países vem tomando tais decisões – a partir de sua autonomia enquanto Estado Nacional – a partir do acesso à informações, tanto as fornecidas pela própria China, quanto as reflexões desenvolvidas por profissionais das áreas do conhecimento envolvidas com a questão e também a observação de ações que outros países estão tomando.

Enquanto indivíduos devemos também balisar nossas práticas através da busca por informação. No tema em questão, uma dessas fontes é o Estado, que apresenta uma conclusão sobre condutas individuais no contexto atual, gerada a partir de um processo formal, regido por regras e checagem de fatos. Porém, estimular o acesso à apenas uma fonte de informação é estimular a alientação. É também um estímulo à alienação caracterizar de forma pejorativa pessoas que buscam informação.

Nos últimos dias, muito se vê comentaristas ou médicos afirmando que “pessoas estão entrando em pânico”, quando, o que está ocorrendo, são pessoas preocupadas com sua própria vida e buscando informação sobre o assunto.

É fato que o governo brasileiro demorou a se posicionar e a apresentar medidas. É espantoso observar ainda como faltam medidas preventivas na área sanitária no país. Os jornais entrevistam especialistas da saúde que afirmam: “lavar as mãos é a melhor prevenção”, porém, há abundância de banheiros públicos sem sabonete, papel higiênico e papel para secar as mãos. Quantas doenças não seriam prevenidas caso houvesse higiene básica nos inúmeros prédios públicos do Brasil – banheiros públicos em praças, terminais de ônibus, espaços culturais, mercados públicos, muitas vezes até hospitais? Ou mesmo estabelecimentos privados: lanchonetes, restaurantes com banheiros sujos e sem sabonete para higienização.

Alguns especialistas dizem: “não entrem em pânico, sigam suas vidas normalmente”. Porém de nada adianta dizer para não entrar em pânico e não fornecer informações. É na falta dessas informações que as pessoas vão busca-las por si próprias. Informação é conhecimento e conhecimento tranquiliza as pessoas. O “confia em mim” não é ético pois desqualifica a capacidade alheia e estimula a dependência.

Não deixe de buscar informações, consulte várias fontes, compare dados, seja curiosa, vá atrás do que é importante para você e para o coletivo. Pergunte, duvide, compartilhe suas angústias com outras pessoas. Comunique-se. Se tem alguma que os regimes de poder – sejam eles políticos ou da apropriação médica do saber sobre o corpo – temem é a difusão ampla de conhecimento e pessoas que desenvolvem a habilidade crítica do pensar.

Para não entrar em pânico, busque informações.

Daniela Alvares Beskow

07 de fevereiro de 2020

Uma coluna por sexta