A falta de oxigênio, planejamento estratégico e logística básica. Reflexões sobre a pandemia no Brasil no início de 2021

É chocante ver a de falta planejamento estratégico e logística básica não apenas nos governos do Brasil, mas, do mundo para lidar com a pandemia.

Estamos há quase um ano em contexto de pandemia e ainda assim vemos o trágico acontecimento de pacientes morrendo por falta de oxigênio em hospitais. Qual a dificuldade em haver um sistema nacional integrado de informação sobre os estoques de insumos em hospitais? É uma tecnologia simples, que poderia existir há muito tempo. Integrada com o acompanhamento das necessidades de cada estado em tempo real, o que inclui trabalho de previsão fundamentada em dados – como a velocidade da taxa de transmissão do vírus – tal rede de informações poderia ter agilizado o envio de oxigênio para Manaus semanas atrás. Mas não. Governos insistem em agir apagando incêndios, na maioria das vezes, ao invés de evita-los.

O Brasil tem tecnologia, conhecimento e verba. É difícil entender porque os governos não estão cumprindo sua função: administrar, gerir com inteligência, utilizando os meios já existentes. Não o fazem no cotidiano em condições normais, em condições de emergência, tampouco. O estado enquanto gestor há que estar preparado com antecedência para situações de emergência. Não é o que estamos vendo. E à essa altura nos perguntamos: por que a União ainda não declarou fechamento total neste início de ano? Ou então os Estados, que tem autonomia para isso?

Um ano de pandemia, já sabemos como funciona o vírus e que a única solução que bloqueia completamente sua disseminação é o isolamento. O Estado e a sociedade tem condições de transformar o contexto de trabalho coletivo para trabalho isolado e de manter economicamente pessoas durante essa transição. Enquanto sociedade, temos tecnologia e meios para tal. Mas os governos optam por manter a estrutura de desigualdade econômica e enviar a população de baixa renda para a morte, no trabalho nas ruas, nas empresas com espaços fechados e transporte público inadequado, enquanto poderia salvar vidas com a reestruturação das formas de trabalho e garantia de moradia digna para todos.

As sociedades e governos tem que optar pela vida, pela não-exploração, pela não-violência.

Sempre foi urgente. E na maioria das vezes, negligenciado. Defendo que políticos realizem um curso de formação em gestão pública como pré-requisito para que se tornem candidatos. E também uma formação em Ciência Política e História, estudando também a Constituição. Cursos gratuitos oferecidos pelo Estado. Na Constituição pode-se ler sobre todos os direitos que deveriam garantir um Brasil sem desigualdade social, direitos que promovem a qualidade de vida e não apenas a sobrevivência. Direitos que não estão sendo garantidos pelos governos.

Daniela Alvares Beskow

14 de janeiro de 2021