A deterioração da ética percebida com o passar dos anos

Uma vantagem sem se ter algumas decádas de vida (a partir dos 30, aproximadamente) é viver o tempo necessário para observar como a ética e os valores de algumas pessoas se deterioram com o tempo. E também em perceber como outras pessoas mantém sua postura de respeito e valorização das relações humanas por toda uma vida. Esse é o tipo de coisa que não temos consciência aos 10, 20 ou 20 e poucos. É preciso tempo para observar a transformação ou manutenção das coisas. Certas transformações são perceptíveis apenas com a passagem de um mínimo de anos.

Valores como solidariedade, apoio emocional, sinceridade, ajuda mútua, acolhimento são muitas vezes encontrados na infância. Não vou romantizar, nem sempre é assim. Existem muitos exemplos de crianças ou grupos de crianças que agem de forma oposta e em geral isso ocorre quando estão expostas à cotidianos de violência. Ainda assim é geralmente atribuído à infância o exemplo de pessoas que ainda não se “contaminaram” pelas relações de desrespeito típicas dos adultos. Na adolescência ainda é possível identificar grupos de solidariedade, ainda que hostilidades passem a ser frequentes entre pessoas dessa faixa etária. O fato é que, ainda que encontremos muitos adultos individualmente ou em grupo que se pautam por relações éticas e de preocupação com o outro, à medida que avançam na idade adulta, muitos vão se deixando levar pela ideia de que ser hostil é aceitável, de que vale tudo para impor sua opinião ou para competir pela sobrevivência. Talvez um male do capitalismo individualista. Ou do patriarcado, ou do racismo. Ou de tudo isso.


Depois de algumas décadas de vida é possível observar tudo isso, perceber pessoas que um dia se pautaram pelo respeito e de repente se encontram confortáveis em suas atitudes individualistas, egoístas e de violência contra próximos ao seu redor.


Daniela Alvares Beskow,

26/02/2022

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