Mulheres e o pensamento estratégico

Mulheres, assim como homens, são dotadas de pensamento estratégico. A diferença está em como as pessoas ao redor reagem à manifestação desse pensamento em função de onde se origina – em mulheres ou em homens. Há sabotagens e bloqueios coletivos em relação à mulheres que propõe visões e soluções a partir de estratégia por elas concebidas, compartilhadas e colocadas para debate. Vejam, ainda que a proposta seja oferecida para transformações, dificilmente ela é aceita sem antes passar por um processo extremamente desgastante de classificação de tal proposta enquanto duvidosa. No caso dos homens, o compartilhamento de pensamentos estratégicos é praticamente uma conversa de bar: o reconhecimento está garantido, haverá recepção positiva permeada por afeto e companheirismo, há certeza de recepção coletiva. Já para a mulher, haverá obstáculos, a dúvida sempre virá em primeiro lugar. “Tem certeza?”, “você já consultou um especialista?” (ainda que ela mesma seja a especialista sobre o assunto), “tal pessoa tem mais experiência”, “quais seus fundamentos?” (sempre importante perguntar, mas, no caso da mulher, aparecem como forma de deslegitimação da afirmação”), e assim por diante.

Propor soluções a partir de uma visão estratégica, pior, propor uma estratégia por completo – ponto de saída, processo, objetivo final, embasado em um método, justificativa, previsão, solução, plano b, etc – se transforma em uma guerra, onde a mulher está sempre a resistir e sobre-viver aos ataques epistemológicos e teóricos.

Não apenas homens deslegitimam por completo o pensamento estratégico de mulheres, mas, também outras mulheres, a partir da miríade de fatores existentes na rede de relações entre mulheres que operam a partir da violência, principalmente a violência psicológica.

Mulheres e o pensamento estratégico: um constante desperdício de conhecimento e energia em relações coletivas que insistem em reforçar relações baseadas no desrespeito e na violência. Produção de conhecimento desperdiçada historicamente e cuja estrutura misógina persiste no tempo.

Daniela Alvares Beskow

18 de fevereiro de 2022